Sabia que o tratamento cruel aos animais de criação está relacionado ao risco do aumento de bactérias resistentes a antibióticos? Pode ser difícil compreender essa conexenção a princípio, mas ela existe – e fica clara no minidocumentário Bactérias Multirresistentes: Uma Ameaça Invisível, disponível no YouTube e produzido pela organização Proteção Animal Mundial.
“A necessidade de produzir carne de baixo custo e em larga escala fez a indústria submeter os animais a práticas não sustentáveis, como confinamento em pequenos espaços. Com isso, a imunidade dos animais é desafiada. Para que eles não fiquem doentes, os produtores usam antibióticos de forma preventiva”, diz Daniel Cruz, veterinário e coordenador de bem-estar animal da Proteção Animal Mundial. “E há outra parte da indústria que usa os antibióticos como promotores de crescimento”, completa, em entrevista exclusiva que concedeu para VEJA SAúDE no lançamento do minidocumentário – confira o bate-papo mais abaixo.
O minidocumentário inclusive retrata a realização de uma pesquisa de campo, feita pela Proteção Animal Mundial em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), que avalia essa relação entre pecuária, uso de antibióticos e o surgimento de bactérias multirresistentes.
é preciso entender que a resistência bacteriana está entre as dez maiores ameaças ao bem-estar global, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Todo ano, morrem 700 mil pessoas no planeta em decorrência de infecções que não respondem aos tratamentos com antibióticos. Nos próximos 30 anos, podem ser mais de 10 milhões de óbitos, estima a OMS.
A resistência bacteriana dá as caras com o uso exagerado ou inadequado de antibióticos, que acaba selecionando as cepas mais resistentes. A pecuária se tornou uma fábrica de micro-organismos resistentes, uma vez que recorre rotineiramente aos antibióticos – o que poderia ser evitado com práticas mais modernas e focadas no bem-estar animal.
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Ao longo da entrevista, Daniel Cruz aborda esses assuntos e discute como cada um de nós pode ajudar a conter essa tendência. Confira:
Daniel Cruz: Colhemos amostras em diversos pontos do Paraná que possuem grande concentração de produção de suínos e frangos. Assim que identificávamos uma granja, eram feitas coletas em trechos do rio antes de ele chegar a granja e depois de passar pelo terreno dela.
As amostras colhidas no trecho anterior apresentavam bactérias com uma média de cinco genes que conferem resistência a alguns tipos de antibiótico*. Depois que o rio passa pela granja, esse número pula para 22 genes. Ou seja, há um aumento representativo desses agentes de resistência microbiana nessas áreas de produção.
Uma vez encontrado esses genes em rios próximos a s granjas, é sinal de que a própria água de consumo e os peixes estenção contaminados. Isso facilita muito o contato de bactérias resistentes com o ser humano.
*As bactérias que resistem ao tratamento com antibióticos possuem em seu DNA genes distintos em relação a s que senção facilmente combatidas com medicamentos. Fonte: Relatório da Proteção Animal Mundial.
Os animais estenção recebendo uma quantidade muito grande de antibióticos durante o seu ciclo de produção. A necessidade de produzir carne de baixo custo e em larga escala fez a indústria submeter os animais a práticas não sustentáveis, como confinamento em pequenos espaços. Com isso, a imunidade dos animais é desafiada. Para que eles não fiquem doentes, os produtores usam antibióticos de forma preventiva. E há outra parte da indústria que usa os antibióticos como promotores de crescimento.
Com o uso de tanto antibiótico, as bactérias encontram um terreno fértil para evoluir e escapar desses medicamentos.
Sim. Cerca de 70% desses antibióticos senção eliminados pelas fezes e pela urina dos animais, e as fezes senção utilizadas de maneira frequente como fertilizante. Ou seja, venção direto para a lavoura, o que leva essa contaminação para outros alimentos.