Há 60 anos a pílula anticoncepcional chegava ao Brasil, e muita coisa mudou de lá para cá. O medicamento que ajudou a impulsionar a revolução sexual e a liberdade da mulher agora também é encontrado em outras formas, como a injetável e o implante. E pode até ser substituída por outros métodos – que a s vezes dispensam os hormí´nios.
No entanto, seis décadas depois, as próprias pílulas ainda geram dúvidas e polêmicas. Uma pesquisa encomendada pela Bayer ao Ipec ouviu mil mulheres de diferentes regiões do Brasil, entre 16 a 45 anos, que já engravidaram. Uma das revelações é que 62% não havia planejado a gravidez, 54% não usavam nenhum método contraceptivo e 65% gostariam de ter recebido mais informações sobre o tema antes.
Vergonha de ir ao médico para discutir a vida sexual e a falta de informação contribuem para que mulheres passem por gestações não desejadas.
Por outro lado, há quem arrisque tomar pílulas anticoncepcionais por conta própria: ¼ das mulheres da pesquisa admitiram que fazem isso – o que pode envolver riscos. Embora segura na maioria dos casos, elas oferecem riscos adicionais de trombose a mulheres com certas características genéticas, e também para as que fumam, por exemplo.
é importante consultar um médico antes de adotar qualquer estratégia contraceptiva, inclusive para verificar qual mais se adequa ao seu dia a dia.
Hora de entender os detalhes desse método contraceptivo:
Quando surgiu a pílula anticoncepcional?
Ainda no século 20. Nos Estados Unidos, uma enfermeira feminista chamada Margaret Sanger (1879-1966) atuava contra a legislação da época, pregando métodos contraceptivos para mulheres. Para a sociedade, na época, era um absurdo recusar-se ser mençãe, e a ativista chegou a ser presa após abrir a primeira clínica de controle de natalidade daquele país.
O nome dela é lembrado nas enciclopédias por influenciar cientistas a criarem uma solução simples para a mulher evitar gestações indesejadas. E deu certo. Por volta de 1960, surgia a primeira pílula anticoncepcional nos Estados Unidos. Dois anos depois, ela já estava no Brasil.
O que mudou da antiga pílula para a que se toma hoje?
Daniela Nogueira Barros Rocha, ginecologista e obstetra da Clínica First, em Senção Paulo, conta que na primeira versenção era necessário colocar altas doses de hormí´nios sintéticos nos comprimidos – da ordem de 150 microgramas (mcg).
Por este motivo, os riscos de trombose, infarto e acidente vascular cerebral eram muito maiores, lembra a ginecologista e obstetra Nilka Donadio, consultora de Reprodução Humana e Medicina Fetal da Dasa Gení´mica. Com o tempo, foram desenvolvidas novas formulações, com menores doses. Elas caíram atualmente para 20 ou 15 microgramas, mas sem perder a eficácia, completa.
Há ainda as fórmulas que contêm estrogênios naturais, como o estradiol, que promoveriam menores efeitos colaterais (principalmente enjoos e dor de cabeça).
O que é a pílula anticoncepcional e como ela funciona?
A pílula faz uma combinação de hormí´nios com o objetivo de enganar o organismo e evitar que a mulher ovule, conta a ginecologista e especialista em reprodução humana Karen Rocha De Pauw, de Senção Paulo.
Esses hormí´nios senção o estrogênio e a progesterona, em suas formas sintéticas. Para ser mais exato, eles interferem na hipófise, um glândula localizada na base do cérebro. A paciente ovula porque a hipófise produz FSH [hormí´nio folículo-estimulante] e LH [hormí´nio luteinizante], que agem no ovário. Mas as pílulas bloqueiam essa liberação, especifica Adriana Campaner, ginecologista do Alta Excelência Diagnóstica, da Dasa.
A medicação ainda altera o muco cervical, um líquido que facilita o avanço dos espermatozoides, acrescenta Daniela.
Quais senção os tipos de pílula?
Existem várias formulações. Nilka nos ajuda a entender essa classificação:
- Quanto a quantidade de estrogênio: aquelas com mais de 50 mcg senção consideradas de alta dose. Abaixo desse valor, senção de baixa dose. Atualmente, existem anticoncepcionais orais combinados com 20 ou 15 mcg, considerados de ultra baixa dose.
- Quanto ao tipo de progesterona. Aí, há as pílulas de diversas gerações. As mais modernas vêm com doses baixas.
- Outra classificação se dá em relação a s quantidades diferentes de hormí´nios entre os comprimidos de cada cartela. Ou seja, o regime pode ser monofásico (uma dose igual em todas as pílulas), bifásicas (duas doses, em períodos diferentes do mês) ou trifásicas (três doses diferentes).
- Algumas pílulas têm em sua formulação unicamente o progestagênio – essas senção as de uso contínuo, tomadas sem intervalos. Elas param a menstruação.
Como escolher a pílula?
A composição das diferentes pílulas é complexa, e isso afeta o organismo da mulher muito além da ovulação.
Quando a ideia é só evitar a gravidez, o médico pode optar por uma pílula com doses menores. Mas se a ideia for também tratar espinhas ou pelos indesejados, isso a s vezes muda.
é importante pontuar que, entre os tipos de contraceptivos, há os que combatem certos sintomas ou mesmo doenças, reforça Daniela. A endometriose é uma dessas encrencas. Há ainda alternativas que senção utilizadas durante a amamentação, e outros para quem possui contraindicação para o estrogênio.
Só uma avaliação da mulher e de seus desejos para definir qual a melhor opção de contraceptivo – que, aliás, pode ir além das pílulas.